Febre na Infância
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Uma das maiores queixas nos consultórios e serviços de pronto-atendimento em pediatria é a febre. A febre sempre foi vista como um sinal de uma doença grave, principalmente nos anos anteriores da medicina moderna, quando a ciência não entendia bem o processo da febre e possuia poucos tratamentos para as doenças infecciosas.
A febre, por definição, é o aumento da temperatura do corpo acima de 37,8ºC e a temperatura deve ser sempre medida com um termômetro. A febre é apenas um sinal que seu sistema de defesa foi ativado para combater algum agente infeccioso ou para gerar imunidade, no caso da aplicação de uma vacina. O aumento da temperatura do corpo é regulado pelo corpo para que mais células de defesa possam combater a infecção. Ou seja, a febre é algo necessário para que o corpo funcione bem contra alguma infecção e até para gerar a imunidade após a aplicação de vacinas.
Mas, no momento da febre, algumas substâncias que são produzidas para trazer mais células de defesa para conter a infecção também causam dor no corpo e por isso sua criança geralmente fica caida no momento da febre. O uso de analgésicos é utilizado para esse fim: para não deixar sua criança ficar sofrendo.
"Mas a febre não pode dar convulsão ?"
A febre, em si, não gera convulsão. A maioria das crianças não vai apresentar nenhum problema com a febre. Algumas crianças são mais sensíveis ao aumento súbito da temperatura e podem desencadear crises convulsivas. As crises convulsivas febrir são benignas (não deixam sequelas nas crianças), de duração rápida, resolvem sozinho e, mais importante, não são evitáveis com o uso de antitérmicos. A criança que apresenta convulsão febril não vai deixar de ter convulsão porque foi medicada pela febre. A convulsão não acontece porque demorou a ser medicada, mas a crise ocorre e muitas vezes na hora da crise que percebemos que a criança está com febre. O tratamento também não envolve dar medicamentos, pois a crise se encerra antes do efeito da medicação.
"Mas a febre não quer dizer que tem algo grave com minha criança ?"
Crianças pequenas vão ter de 6 a 8 infecções virais até completarem 2 anos. Ou seja, nessa idade, a maioria das infecções são autolimitadas. A febre dura de 3 a 4 dias (podendo acabar um pouco antes ou um pouco depois) e a criança vai se recuperando aos poucos. É por isso que o pediatra geralmente pede para observar a febre por cerca de 3 dias. Caso a febre não se encerre depois desse período, aumenta a probabilidade de uma doença bacteriana presente. Mesmo assim, abaixo de 2 anos, a probabilidade de ainda ser uma doença viral é muito grande, mas vale a pena ser examinado por um pediatra.
As doenças virais não precisam de tratamento específico e a orientação é que a criança seja hidratada adequadamente, pois, durante o período de doença, vai diminuir o apetite (o estresse da doença faz com que o corpo libere na corrente sanguínea mais glicose estocada, diminuindo a vontade por comida) e é importante que os líquidos perdidos seja repostos, pois o corpo não possui reserva de líquidos.
"Se chegar a 39ºC, a criança pode ter convulsão"
Como colocado anteriormente, não é a temperatura que determina que a criança pode ter consulsão ou não, mas a predisposição da própria criança à subida rápida da temperatura, mesmo que seja para 38ºC. Quando a criança está com febre, o corpo irá aumentar a produção de suor para que a água do suor leve o calor embora. Assim, é importante que a criança esteja usando roupas leves, não seja colocada em ambientes muito quentes e úmidos, pois ai terá dificuldades para que o corpo consiga regular a temperatura do corpo. Manter a criança hidratada também é importante, pois a água consegue "roubar" calor sem variar muito a temperatura do corpo. Crianças desidratadas tem maior probabilidade de aumentar a temperatura do corpo de forma rápida. Caso o corpo não seja capaz de perder calor para o ambiente, a criança pode sofrer de uma outra condição, que é a hipertermia. A hipertermia é quando o corpo não mais consegue controlar a temperatura e a temperatura pode chegar a mais de 41 graus, o que é um risco para qualquer pessoa. Assim, se sua criança estiver com febre, mantenha-a pouco agasalhada, deixe-a hidratada e evite ambientes muito quentes e úmidos.
"Tenho que tratar rápido a febre e alternar medicamentos para a febre".
O tratamento agressivo da febre apenas vai aumentar o risco de efeitos colaterais causados pelos medicamentos. Tratar demais a febre não vai evitar convulsões, mas vai aumentar a probabilidade de efeitos tóxicos de medicamentos. Os medicamentos para febre liberados até 1 ano de idade são o paracetamol e a dipirona. Após 1 ano de idade, o ibuprofeno pode ser utilizado. AAS não deve ser nunca utilizado em crianças, pelo risco de desenvolvimento de uma doença neurológica grave, principalmente quando a criança está com sintomas gripais. Quando sua criança estiver com febre e muito sintomática, use apenas um antitérmico (o que você tem mais confiança) e evite usar em temperaturas abaixo de 38ºC.
"Se meu filho estiver com febre, eu tenho que botá-lo no banho até baixar a temperatura ?"
O banho, por si só, não influencia em nada o processo da febre. O corpo está aumentando a temperatura de forma intencional, para que mais células de defesa ajudem a combater a infecção. Colocá-la no banho fará com que ela perca calor, mas o corpo continuará enviando estímulos para o aumento da temperatura, pois é necessário para que ele possa se defender. Assim, a criança terá mais calafrios, para que a contração muscular possa gerar mais calor. Para a criança, isso é bastante ruim. Caso a criança já esteja medicada (o remédio para febre interrompe a programação do corpo para o aumento da temperatura), o banho pode facilitar a perda de calor pois a água "rouba" o calor do corpo e acelerar o processo. O problema é que a criança com febre está com a sensação de frio, por estar perdendo calor. Colocá-la no banho com a água numa temperatura fria fará com ela sinta um desconforto ainda maior. Ela já está com dor e agora passará a ter dor e sensação de frio. Caso vá dar um banho, apenas o faça depois de medicada e deixe a água na temperatura ambiente. Caso não queira dar o banho, apenas aguarde o efeito da medicação.
"Se meu filho der febre, eu tenho que ir direto ao pronto-socorro ?"
Caso seu filho esteja com febre, a primeira pessoa que deve ser contactada é o pediatra dele, que o acompanha. Ele vai alertar quando a sinais de alarme de doenças mais graves mas que, felizmente, são raras. O médico do pronto-socorro não conhece sua criança e muitas vezes vai ser mais intervencionista que o necessário, simplesmente por não conhecer os pais e as crianças. Assim, vai acabar utilizando mais antibióticos que o necessário, vai pedir mais exames laboratoriais e radiológicos sem necessidade, quase que como uma proteção para um erro, já que não vai mais acompanhar a criança. O pediatra que acompanha sua criança pode pedir para que a criança seja vista 2 ou 3 dias depois, evitando furadas desnecessárias, radiação em sua criança sem qualquer benefício. O uso de antibióticos em doenças virais não protege sua criança. Pelo contrário, favorece que na próxima infecção bacteriana esse tratamento simplesmente não funcione e ainda cria um ambiente favorável para doenças bacterianas mais sérias no futuro. O uso de antibióticos em crianças abaixo de 3 anos deve ser raro, em uma doença bacteriana bem documentada, e não por precaução.
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Esse texto serve para que você aprenda a manejar esse sinal comum nos primeiros anos do seu filho, mas não substitui o papel do médico. Sempre que houver dúvidas, procure o pediatra do seu filho e não o pediatra da emergência, a não ser que seja um caso efetivamente grave, como dificuldade importante de respiração, convulsões, perda da consciência, desidratação (boca seca, olhos fundos, diminuição na quantidade do xixi).
Esse texto também não é uma verdade absoluta sobre o tema. Alguns pediatras podem ter posições diferentes e o mais importante é a confiança no profissional que cuida do seu filho.
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